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IGREJA E POLÍTICA

Thalita Cabral

O cristão deve participar da política? Existe a crença equivocada de que a política e o cristianismo não se entrelaçam, mas se a nossa perspectiva cristã não influencia até mesmo nossas opiniões políticas, por que nos consideramos cristãos? Assim como é essencial termos uma visão centrada em Cristo sobre o trabalho e diversas áreas da vida, a política também é uma parte importante, e todos os cristãos precisam reconhecer isso."


Todo cristão tem a responsabilidade de se posicionar sobre questões éticas como aborto, homossexualidade, eutanásia e pesquisa com células-tronco, percebendo-as como desafios oriundos de um liberalismo secular que é oposto aos princípios do evangelho. A política é parte integrante do nosso compromisso com as escrituras; caso não nos envolvamos, há o risco de homens biológicos ocuparem espaços femininos, crianças serem influenciadas por ideologias de gênero, além de serem pressionadas a utilizar hormônios que poderão impactar seu desenvolvimento, resultando em consequências permanentes. É, portanto, crucial que os cristãos se engajem na política, compreendendo que esse envolvimento faz parte do nosso chamado. Contudo, é essencial que tenhamos cautela para não transformarmos o evangelho em um instrumento político.


Inicialmente, é importante compreender o conceito de política. As expressões "política" e "político" podem apresentar significados tanto amplos quanto mais específicos. De uma maneira geral, a "política" refere-se à vida social na cidade (polis) e às obrigações do cidadão (polites), abrangendo todos os aspectos da convivência em uma comunidade. Em um sentido mais restrito, a "política" se configura como a ciência do governo, focalizando o desenvolvimento e a implementação de políticas específicas, promovendo a inserção dessas diretrizes na legislação, e busca o poder para provocar mudanças sociais. É legítimo questionar se Jesus teve alguma participação na política.


Em resumo, Jesus não se envolveu na política, não fundou um partido nem implementou um programa político. Tanto a multidão quanto seus discípulos acreditavam que o Messias chegara para conquistar uma posição política e libertá-los do domínio romano, mas essa não foi a missão de Cristo. No entanto, de certa forma, todo o seu ministério apresentou um caráter político, uma vez que ele veio ao mundo para viver entre as pessoas e enviou seus seguidores a fazerem o mesmo. Jesus veio para anunciar o reino de Deus, que representa uma visão alternativa, cujos valores e princípios confrontavam os da antiga sociedade decadente. Assim, seus ensinamentos carregavam consequências políticas, oferecendo uma alternativa ao status quo. Seu reinado foi interpretado como uma contestação ao império de César, levando Jesus a ser acusado de conspiração.


Mesmo que o ensino de Jesus não tenha sido abertamente político, ele subvertia estruturas políticas injustas, desafiava a opressão e prometia a existência de um novo reino caracterizado por justiça, no qual a verdade e não as promessas políticas, libertava as pessoas, o evangelho de Jesus nos ensina que o amor deve ser acompanhado com justiça, devemos não apenas ter repugnância quando vemos crianças sendo violadas, passando fome, mas o amor por essas pessoas e de que o mal deva ser combatida deve nos levar a ação, o amor deve nos levar a agir em prol de nossa sociedade, pois o que adiante dizer que matar é pecado, e não fazermos nada para diminuir a violência, ou afirmarmos que somos contra ideologias de gênero serem ensinadas nas escolas, e não procurarmos uma ação contra isso?


Contudo, devemos tomar cuidado para não politizar o evangelho, que é a identificação da fé cristã com um programa político, isso é errado, pois nosso dever é primeiro amar a Deus acima de tudo e amar o próximo como a nós mesmos, e até porque nenhum programa político reivindica ser a expressão da vontade de Deus, até porque devemos tomar cuidado para não construímos uma utopia na terra, pois mesmo que a igreja aja com ação neste mundo, não conseguirá erradicar o pecado, a igreja deve lembrar do seu chamado primeiro de orar, adorar, evangelizar e chamar pessoas para seguirem a Cristo, a igreja não deve ter partido político, pois ela pode ser desacreditada, a igreja deve ter integridade e prudência, e tomar cuidado para não ligar o evangelho ao um, programa político, a igreja se preocupa com princípios e não com política.


Existem três opções de politicas


Existem três opções de políticas e vamos estudar cada uma delas de maneira resumida, eu vejo muito jovens brasileiros falam sobre pautas que nem eles entendam, não sabem o que é autoritarismos, anarquismos e nem sobre o que é de fato democracia.


Autoritarismo.

Governos autoritários impõem sua visão de mundo às pessoas, eles não são supervisionados por uma constituição ou por eleições livres e justas, são obcecados por controle e tem uma visão pessimista sobre a natureza humana, não acreditam que a confiança deva ocupar o núcleo da sociedade civil, mas suspeitam das consequências da liberdade humana e da escolha pessoal, dentro da história humana, governos autoritários, seja fascista, seja comunista, seja a expressão de uma ditadura, não acreditam em discurso social, tampouco acreditam que qualquer coisa possa ser aprendida do povo, já que as pessoas desejam ter seus direitos humanos e querem ter a liberdade de escolher como viver a sua vida, o governo autoritário impõem sua visão de sociedade as pessoas e as coage a aceita-las, gerando violência e suspensão de direitos humanos, eles acreditam que o povo não devem fazer parte nas tomadas de decisões, países que são autoritários atualmente, são : Venezuela, cuba, Coreia do norte entre outros.


Anarquia

Nessa filosofia, existe tamanho otimismo em relação ao indivíduo, em que lei, governo e qualquer autoridade são vistos não só como supérfluos, mas como ameaça a liberdade humana, o termo "anarquia" vem do grego que significa essencialmente "nenhum senhor" anarquista são pessoas que rejeitam todas as formas de governos ou de autoridade coerciva, todas as formas de hierarquia e dominação, eles são contra capital, estado e igreja, eles se opõem tanto ao capitalismo quanto ao estado e a todos as formas de autoridade religiosa, mas eles também procuram estabelecer ou gerar, pelos os mais variados meios uma condição de anarquia, uma sociedade organizada por meio de federação de associações voluntárias, anarquia também é associado a violência, eles procuram causar a queda do estado ou de outras instituições por meio da violência, ela está mais associado ao caos do que a ordem social, essa visão retrata o erro de se ter uma visão otimista sobre a natureza humana, afinal, nos temos uma natureza depravada e repleta de pecados.


Democracia

Ela representa a terceira alternativa, sendo uma manifestação política que utiliza a persuasão através do raciocínio. Enquanto o autoritarismo impõe leis de maneira arbitrária e a anarquia apresenta uma visão distorcida da autoridade, a democracia oferece uma perspectiva mais realista sobre o ser humano, que é ao mesmo tempo criado e decadente. Essa forma de governo envolve os cidadãos na elaboração de suas próprias normas, pelo menos em teoria. Na prática, no entanto, os meios de comunicação têm facilidade em manipular as opiniões e a corrupção influencia o sistema político. Além disso, em cada democracia existe um risco permanente de opressão das minorias. Assim, a sociedade deve ser orientada para o benefício de todos. Muitas vertentes do socialismo consideram a democracia como o pilar da sociedade civil, enquanto a democracia social vê a assistência social como essencial para uma sociedade justa. Por sua vez, na democracia liberal, o destaque é dado à liberdade individual e ao indivíduo, em detrimento da igualdade e da coletividade, com a função do estado sendo percebida como secundária em relação às escolhas pessoais.


Assim, há diversas formas de democracia, como o libertarismo, que se foca completamente nas decisões pessoais e restringe a atuação do Estado a proteger os cidadãos contra a coerção. Dentro dessa perspectiva, oferecer suporte a quem enfrenta dificuldades é considerado uma violação da liberdade; representa uma versão mais radical do liberalismo. Por outro lado, no comunitarismo, a prioridade é dada à comunidade e às tradições em vez do indivíduo. Essa abordagem se coloca como uma alternativa tanto ao liberalismo quanto ao libertarismo, sublinhando a importância de manter nossos valores morais e instituições coletivas, como a família.

De acordo com John R. Lucas, o termo democracia se refere ao "ato de decidir", com essa responsabilidade recaindo, em grande medida, sobre todos nós. As decisões são fruto de discussões, críticas e compromissos, levando em conta os interesses de todos os cidadãos, e não exclusivamente de um grupo ou partido. No contexto democrático em que vivemos, nós, como cristãos, temos o direito e a possibilidade de participar de debates públicos sobre temas relevantes, como o aborto, o desmatamento da Amazônia, o tráfico de crianças na ilha de Marajó e a fertilização artificial.


O objetivo é influenciar a opinião pública até que surja uma demanda por legislações que estejam mais alinhadas com os princípios divinos. O processo decisório emerge de um consenso, que é fruto de um diálogo construtivo onde as questões são elucidadas.


Segundo Abraham Lincoln democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo, onde o povo participa da tomada de decisões. Respeitando a dignidade humana, pois se recusa a concentrar o pode em apenas uma ou poucas pessoas e insiste em dispersá-la, assim protegendo os seres humanos do orgulho e da loucura.


Assim, segundo John Stott, os cristãos precisam estar atentos para não confundir qualquer ideologia política (seja de direita, esquerda ou centro) como se fosse a verdadeira e única fonte de verdade absoluta. Na melhor das hipóteses, uma ideologia política e seu correspondente programa são apenas aproximações à vontade de Deus.


De acordo com ele, o capitalismo tem seu apelo ao promover a iniciativa e o espírito empreendedor do indivíduo, mas também gera repulsa, pois parece desconsiderar que os mais vulneráveis podem sucumbir à intensa competição que promove. Por outro lado, o socialismo é atraente por demonstrar uma profunda compaixão pelos necessitados e vulneráveis, mas também causa rejeição, uma vez que aparentemente ignora o fato de que a iniciativa e o esforço individual podem ser sufocados por um governo excessivamente centralizador. É possível que muitos, incluindo os cristãos, anseiem por uma terceira alternativa que transcenda os conflitos atuais e una os melhores elementos de ambos os sistemas, permitindo o florescimento das habilidades criativas e do espírito empreendedor humano, enquanto também presta atenção àqueles que são prejudicados pela competição, ou seja, os pobres e os vulneráveis.


Entretanto, a igreja deve se envolver com a política? Com certeza, sua função essencial é ensinar a lei de Deus e propagar o evangelho; isso é uma obrigação. De acordo com John Stott, quando a igreja chega à conclusão de que a fé bíblica ou a justiça demanda que ela se manifeste publicamente sobre certas questões, é fundamental que ela siga os ensinamentos de Deus e confie a Ele os resultados.


Cada cristão é chamado a desempenhar ministérios diversos e específicos, e o mundo é o espaço onde devemos viver e amar, testemunhar e servir, enfrentar desafios e, se necessário, dar a vida por Cristo.

Referência do livro do Jonh Stott " O cristão em uma sociedade não cristã"


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